O capitão da Polícia Militar do Amazonas (PMAM), Dilson Castro Pereira, voltou ao centro de denúncias graves de abuso de autoridade, violência física contra mulheres e intimidação a um jornalista. O caso ocorreu na noite da última sexta-feira (25), no bairro Santa Etelvina, zona norte da capital, e está sendo investigado após registro de boletim de ocorrência e exame de corpo de delito por uma das vítimas.
De acordo com os relatos, o oficial, em serviço, teria abordado duas mulheres com agressões verbais, proferido insultos e, em seguida, iniciado agressões físicas. Uma das vítimas afirma ter sido alvo de xingamentos e empurrões, além de receber voz de prisão arbitrária por parte do capitão.
O jornalista Sylvano Pontes, que acompanhava uma das mulheres em atividade de trabalho, afirmou ter sido ameaçado ao tentar intervir e questionar a conduta do policial. “Ele me encarou, levantou o tom de voz e me intimidou como se eu fosse um criminoso. Em nenhum momento houve diálogo. Foi um abuso de autoridade completo”, disse Sylvano à reportagem.
Além das vítimas, moradores do bairro afirmam que o capitão Dilson é figura conhecida por ações agressivas e constantes abordagens intimidatórias. “Ele chega gritando, trata todo mundo como suspeito, já apontou arma em patrulha. Ninguém aqui se sente seguro”, disse uma moradora que preferiu não se identificar.
Histórico de conduta questionável
Esta não é a primeira vez que o nome do capitão Dilson Castro Pereira aparece em episódios controversos. Em junho de 2022, durante uma visita oficial do governador Wilson Lima ao município de Iranduba, o capitão foi apontado como o agente que agrediu verbalmente e empurrou o presidente de uma associação comunitária, identificado como Osmar, quando este tentava cobrar obras prometidas pelo governo.
Na época, a ação foi registrada em vídeo e gerou ampla repercussão nas redes sociais, mas nenhuma responsabilização foi tornada pública. O episódio levantou suspeitas sobre o uso da segurança institucional para reprimir manifestações populares e silenciar lideranças comunitárias.
Especialistas alertam para padrão de violência institucional
Para a advogada Larissa Mendonça, mestre em Direitos Humanos e membro da Comissão de Segurança Pública da OAB-AM, o caso é grave e precisa de apuração urgente e imparcial.
“Não estamos falando de uma ocorrência isolada. Quando há reincidência de comportamento abusivo, ainda mais contra civis desarmados, principalmente mulheres, acende-se um alerta institucional. A Corregedoria deve agir com independência para proteger a sociedade.”
O professor de Direito Penal e ex-promotor Fábio Medeiros reforça que a conduta, se confirmada, pode configurar crime de abuso de autoridade, conforme a Lei 13.869/2019, e até violência contra a mulher, com agravantes previstos na Lei Maria da Penha.
“É preciso interromper a lógica da impunidade. O policial tem o dever de proteger, não de amedrontar. O uso arbitrário do poder não apenas deslegitima a instituição, como também expõe o Estado à responsabilização judicial.”
PM e Governo do Estado em silêncio
Até o fechamento desta reportagem, a Polícia Militar do Amazonas não havia se pronunciado oficialmente sobre o caso. A Corregedoria da PMAM e o Ministério Público Estadual são os órgãos competentes para dar seguimento às investigações, mas ainda não anunciaram nenhuma medida.
Organizações da sociedade civil e coletivos de direitos humanos cobram transparência e responsabilização imediata. A Defensoria Pública do Estado e a OAB-AM devem ser provocadas para acompanhar o caso.
Responsabilização e confiança pública
Casos como este, quando não investigados com rigor e transparência, aprofundam a desconfiança da população nas forças de segurança. A manutenção de oficiais com histórico de abusos em postos de patrulhamento comunitário coloca em risco a integridade física e psicológica de moradores, especialmente em áreas periféricas e vulneráveis.
A equipe de reportagem continuará acompanhando o caso. O espaço segue aberto para manifestações da Polícia Militar do Amazonas, do capitão Dilson Castro Pereira e do Governo do Estado.