Se na maioria dos estádios, gandulas percorrem os arredores do gramado, arquibancadas e no máximo ruas para buscar e repor as bolas das partidas, no Afonsão, o gandula Dione Santos Souza precisa de uma canoa e um remo para buscar as bolas que caem no Rio Castanho. A rotina de Dione em dias de jogo é mais uma das demonstrações da relação entre esporte e natureza no interior do Amazonas.
Conhecido na região como “Vinte Um”, Dione Souza é servidor público no município e conta como começou a atuar como gandula e destaca o orgulho de exercer essa função de uma forma diferente de todos os outros.
“Trabalhamos no esporte por amor e quando disseram que precisava ser gandula, eu aceitei na hora. Pra mim é um prazer buscar a bola nas águas de uma das nossas maiores riquezas, que são nossos rios. Pego a canoa e vou remando atrás da bola porque o espetáculo lá no campo não pode ser interrompido. Aqui é engraçado que, às vezes, quando já estamos voltando com uma bola, já tem outra dentro da água e precisamos voltar para buscar e é desse jeito”, contou.
No interior do Amazonas, o homem da floresta vive em harmonia com a natureza, exercendo o papel de principal agente preservador das florestas e rios amazônicos. E é dessa forma que Dione assume o papel de gandula em um dos afluentes do maior rio do mundo.
“Ser gandula entrou de uma tal forma na minha vida, que agora não consigo me imaginar sem minha canoa, remo e indo buscar as bolas. Sinto que estou representando muitos dos meus amigos ribeirinhos. Aqui nosso dever não é só repor a bola para continuar o espetacular, mas também continuar preservando nossos rios, nossas florestas. Sinto muito orgulho de trabalhar no Rio Castanho, que é tão importante para o povo da nossa cidade”.
Influência às novas gerações
Exercendo a função de gandula na Copa da Floresta 2024 e em outras competições disputadas no Afonsão, Dione conta que alguns jovens também se interessam em contribuir para o espetáculo dentro de campo e destaca, mais uma vez com orgulho, que pretende continuar colaborando para o futebol do município.
“Tem um garoto que faz parte da nossa equipe de gandulas que é muito corajoso, ontem mesmo estava comigo pegando as manhas de como procurar e pegar as bolas no rio. E acho muito legal esse interesse, temos que manter essa tradição. Eu ainda jogo futebol, na categoria veterano amador e sempre que puder colaborar para o esporte local, seja jogando ou sendo gandula, estou aqui”, assinalou.
Seleção de Careiro Castanho dá adeus à competição
Dione e os jovens gandulas fizeram o trabalho que lhe foi destinado, porém encerraram sua participação na Copa da Floresta, após a eliminação da seleção de Careiro Castanho. O time da casa perdeu por 4 a 3 para Manaquiri no jogo de ida e na volta empatou sem gols.12:20